Fazer a travessia dos Lençóis Maranhenses é uma das experiências de trekking mais únicas do Brasil. São cerca de 50 km de caminhada por dentro do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, conectando comunidades tradicionais e passando por lagoas de água doce que se formam entre as dunas. Neste post, você encontra informações essenciais sobre quando fazer a travessia, como se preparar, onde se hospedar e dicas para planejar a sua viagem aos Lençóis Maranhenses.
EXPLORE O CONTEÚDO
SOBRE OS LENÇÓIS MARANHENSES
Eu sou apaixonado pelos Lençóis Maranhenses. Estive a primeira vez por 10 dias em 2018 e voltei agora para fazer a travessia. É um lugar único no mundo, tanto por conta da sua formação e dimensão impressionantes quanto pela cultura das comunidades e moradores locais.
Localizado no estado do Maranhão, o parque reúne dunas que se estendem por mais de 155 mil hectares, cortadas por lagoas de água doce cristalina que se formam com as chuvas. Esse fenômeno cria uma linda paisagem, um ‘mar’de dunas e lagoas, que atrai viajantes em busca de aventura e contemplação.
Já a travessia completa do parque é uma experiência transformadora: cerca de 50 km a pé por dentro das dunas, conectando comunidades tradicionais e vivenciando a imensidão desse deserto cheio de vida.
O roteiro mais tradicional é o de 3 noites e 4 dias mas dá pra fazer em 2 noites e 3 dias.
QUANDO FAZER A TRAVESSIA DOS LENÇÓIS
Dá pra fazer a travessia pelos Lençóis durante o ano inteiro! E cada época do ano tem suas vantagens e desvantagens.
A melhor época para atravessar os Lençóis Maranhenses e pegar as lagoas cheias é entre junho e setembro. Esse período ocorre logo após a estação das chuvas, garantindo água fresca nas lagoas e condições seguras de caminhada. Ponto negativo é que é altíssima temporada, os preços também estão mais altos e as comunidades estão sempre lotadas.
De Setembro a Dezembro muitas lagoas começam a secar e a paisagem muda bastante. Isso traz a vida do fundo das lagoas para a superfície com vegetação e pequenos animais. As comunidades também estão mais vazias e o contato com os locais se torna mais genuíno.
Já de Janeiro a Maio é o período de chuvas, quando as lagoas enchem novamente. Sem dúvida um experiência incrível presenciar o ciclo dos Lençóis iniciando novamente. Pra fazer a travessia nessa época é fundamental ir preparado com mochilas com sacos impermeáveis.
Abaixo a tabela com as temperaturas (estáveis em boa parte do ano) e o volume de chuvas mês a mês.
COM QUEM FAZER A TRAVESSIA
Recomendo contratar agências com guias locais credenciados, que conhecem as trilhas, os pontos de parada e as comunidades onde é possível se hospedar. Além de toda a organização e segurança, os guias enriquecem a experiência com muitas histórias e conhecimento cultural e da biodiversidade do parque.
Agências de turismo
É sem dúvida a melhor e mais confortável opção. As agências especializadas em Barreirinhas, Santo Amaro e Atins oferecem pacotes completos, incluindo guia, hospedagem, alimentação e transporte desde a chegada no Maranhão.
Nós organizamos nossa travessia com a Enjoy Maranhão que organizou tudo pra gente. Além disso, o guia pré embarque da travessia, com dicas do clima e do que levar, nos ajudou a montar nossa mala de forma racional!
Ah, importante reservar com antecedência já que a disponibilidade de guias e lugares para dormir nas comunidades é limitado.
Guias comunitários
Outra opção é contratar guias diretamente nas comunidades locais. Além de garantir segurança, você contribui para a economia das famílias que vivem dentro e ao redor do parque.
Não é uma opção muito fácil pra quem está indo pela primeira vez, já que pra isso você precisa conhecer um guia de confiança.
Durante a nossa travessia ficamos sabendo de um guia que simplesmente não apareceu pra pegar os clientes em Santo Amaro pra fazer a travessia. Por sorte a agência conseguiu reorganizar o roteiro e substituir o guia faltante.
Por conta própria
A travessia dos Lençóis não deve ser feita sem acompanhamento. Mas pode? Pode sim, por enquanto. Mas posso te garantir que entrar nas dunas sem um guia experiente vai transformar a sua experiência em um pesadelo.
Os guias conhecem o parque e principalmente, as dunas, que estão em constante movimento. Sabem a melhor hora de cortar ou margear uma lagoa e a hora de subir uma duna.
Nós saimos uma tarde para caminhar nas duas sem o guia e em pouco tempo já estávamos exaustos (porque subimos e descemos dunas sem necessidade) além de ter o senso de direção muito prejudicado.
Até pra achar o caminho de volta pra comunidade foi difícil e precisamos.
COMO CHEGAR
O principal aeroporto para chegar até os Lençóis é o de São Luis na capital do Maranhão.
O ideal é tentar chegar o mais cedo possível em São para aproveitar o transfer já no mesmo dia para Barreirinhas. Se chegar muito tarde talvez tenha que dormir na capital antes de seguir viagem.
Em São Luis o hotel Boulevard Park fica próximo do aeroporto e é uma opção com bom custo benefício para uma pernoite.
Depois do transfer até Barreirinhas, tem que pegar a voadeira pelo Rio Preguiças até Atins e de lá uma jardinheira 4×4 até o Morro da Bandeira onde iniciamos a travessia.
ONDE SE HOSPEDAR DURANTE A TRAVESSIA
Durante a travessia de 50 km, os pernoites acontecem em casas de moradores dentro do parque, nas chamadas comunidades tradicionais. Essas hospedagens são simples, geralmente em redes, mas oferecem alimentação caseira e contato direto com a cultura local.
Algumas comunidades, principalmente na alta temporada, são bem cheias e concorridas, como por exemplo Baixa Grande e Queimada dos Britos.
No roteiro tradicional a última noite é na comunidade de Betânia. Mas o nosso guia incluiu uma noite na Rancharia, um lugar bem tranquilo, muito bonito e próximo de lagoas incríveis!
Mas Betânia também é um lugar excelente e não é a toa que é um dos passeios mais procurados por quem fica em Santo Amaro.
Se precisar de hospedar em Barreirinhas na noite anterior ao inicio do trekking, recomendo a pousada Paraíso dos Lençóis. Já para ficar em Santo Amaro antes de ir embora, minha sugestão é a Reflexo das Águas.
Principais comunidades
Abaixo as principais comunidades que servem como base para a travessia, sendo Baixa Grande, Queimada dos Britos e Betânia o roteiro mais comum.
Comunidade | Destaque |
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Baixa Grande | É a primeira parada e a mais cheia também |
Queimada dos Britos | Comunidade histórica e uma das mais tradicionais |
Betânia | Ponto estratégico próximo a lagoas incríveis |
Rancharia | Menos tradicional, mais tranquila e perto de lagoas espetáculares |
Onde dormir nas comunidades
Em todas as comunidades nós dormimos nas redes, localizadas em áreas cobertas (tipo varandas). Desde o início do nosso planejamento para a travessia, dormir nas redes era a minha maior preocupação.
De fato, a primeira noite é uma noite de adaptação. Achar a melhor posição pra dormir é um desafio.
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- Leve um saco de pano para guardar as roupas e usar de travesseio ou então uma pescoceira inflável.
- Dormir virado pra cima, na diagonal, ajuda a estabilizar a rede e ficar mais reto e confortável.
- Leve máscara para os olhos e tampões de ouvido se você tem o sono leve.
Atualmente já é possível encontrar quartos com camas tradicionais nas comunidades. Porém, a quantidade de oferta ainda é baixa e se você quiser essa opção recomendo reservar o mais rápido possível!
Estrutura das comunidades
Cada comunidade é diferente e o local de hospedagem dentro de cada comunidade também pode variar. Mas via de regra a estrutura mais comum oferece: redes para dormir, refeitório onde são servidas as refeições, banheiro com ducha de água fria (internos e externos).
A quantidade de banheiros é limita e por isso, nas comunidades mais cheias, pode ter fila para o banho. Muitos optam por tomar banho nas duchas externas ou até mesmo nos rios próximos das casas.
Em algumas comunidades a água tenha um cheio forte. Isso acontece pois a água normalmente vem de lagos que ficam represados.
Todas as comunidades tem energia elétrica e tomadas porém a quantidade e localização das tomadas pode variar. Levar um powerbank carregado ajuda a gerenciar bem a bateria dos eletrônicos. Um adataptor que permita carregar multiplos aparelhos em uma única tomada também pode ser útil.
O que levar na travessia
Essa é sem dúvida a pergunta de 1 milhão de reais. Ninguém quer esquecer algo e só se dar conta no meio da aventura. Mas quanto mais coisas levar mais peso tem que carregar durante toda a travessia.
O recomendável é levar uma mochila entre 4 e 5 quilos por pessoa. Aqui vai nossa lista de imprescindíveis:
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- Mochila com capa de proteção para chuva e de preferencia barrigueira
- 2 camisetas UV para a travessia (ideal manga longa) e 1 para passar a noite
- 1 ou 2 sungas e 2 cuecas
- 1 chinelo
- 2 bermudas (substitua uma bermuda por calça se preferir)
- 1 toalha (ideal de microfibra)
- 1 boné ou chapéu
- 1 camelback ou garrafa de água (camelback é ideal se a mochila tiver local)
- Protetor solar (levar em um potinho pequeno somente o necessário)
- Itens de higiene (escova, pasta de dente, sabonete, shampoo)
Sobre as roupas, toda a noite a gente lavava as roupas usadas do dia e deixava secando no varal. Como venta muito no dia seguinte já estava tudo seco!
Agora a lista de opcionais:
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- Powerbank
- Carregador múltiplo
- Repelente
- Meia para trekking (particularmente não achei necessário)
- Saco estanque (caso vá fazer caiaque)
- Remédios para dor de cabeça e dor no corpo
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O resto das nossas coisas colocamos em uma mala extra e deixamos aos cuidados da Enjoy Maranhão que providenciou o tranlado entre nossas hospedagens em Barreirinhas e Santo Amaro.
Sobre dinheiro
Todas as comunidades aceitavam pagamento em PIX portanto não é necessário levar muito dinheiro em espécie. Apesar de todas as refeições estarem inclusas as bebidas são pagas a parte.
QUEM CONSEGUE FAZER A TRAVESSIA
Tenho certeza que essa é uma das perguntas da maioria das pessoas que pensam em fazer a travessia. E essa é minha opinião:
A travessia é para todos. Nós vimos crianças, pessoas acima do peso e pessoas de mais idade fazendo a travessia. Tudo dependende do seu preparo físico e da sua disposição para a atividade.
No total, foram 50 km de caminhada divididos quase igualmente pelos 4 dias. Ou seja, algo entre 8 e 14 km de caminhada por dia. E diferente do que pode parecer, não caminhamos o tempo inteiro em areia fofa e muito menos subindo e descendo dunas.
O guia sabe traçar o caminho de forma a margear as lagoas e aproveitar o terreno mais duro e sem tanto sobe e desce. Boa parte da caminhada é feita no plano e as subidas são leves. O fato de fazer a travessia no sentido Atins – Santo Amaro faz com que as dunas, nesse sentido, estejam a favor do vento e portanto a parte mais íngrime fica para descer as dunas!
Resumindo: se você cuida da sua saúde, faz atividade física regularmente, se alimenta e dorme bem, com certeza está apto a fazer a travessia. Se você não faz nada disso, bem.. pode começar agora e em 6 meses também vai estar pronto pra atravessar os Lençóis!
Nossa experiência
Eu visitei os Lençóis pela primeira vez em 2018 e foi nesse ano que descobri a tal ‘travessia’ pelo parque. Desde aquele ano fiquei enquanto com o parque e decidi que iria voltar e fazer a travessia.
Claro que expectativas foram criadas e quase todas elas foram atendidas ou superadas. A imensidão de caminhar pelas dunas e lagoas desertas, o silêncio, uma caminhada introspectiva, foram algumas delas.
A beleza do lugar é algo muito singular e é até dificil de descrever. Os Lençóis Maranhenses são patrimônio natural sem equivalente. Mas por conta disso se tornou um lugar muito visitado e com isso o turismo em massa e sem controle tem deixado algumas regiões do parque super lotadas.
Portanto, poder caminhar pelo deserto de dunas sem ninguem por perto é algo que eu valorizei muito durante a travessia! E o cenário era diferente a cada dia: lagoas verdes, azuis, marrons, cenário desértico, vegetação mais densa, árvores, lagoas grandes, pequenas. Cada pedaço do parque tem uma biodiversidade completamente diferente.
Por outro lado, as lagoas não estavam tão cheias quanto eu esperada. Principalmente nos 2 primeiros dias de travessia. E olha que nós viajamos em Agosto, mesmo mês da viagem de 2018 e considerado como um dos melhores pra visitar os Lençóis.
O que acontece é que nesse ano choveu pouco e as chuvas terminaram antes. Consequentemente as lagoas começaram a secar antes.
Isso em nada diminuiu a beleza do lugar, mas acho importante mencionar para que você entenda que os Lençóis estão em constante transformação. As dunas se movem, as lagoas se rompem e o clima muda de ano a ano.
Vale a pena fazer a travessia?
Sim! Sem dúvida vale a pena e é uma experiência que vai ficar na nossa memória para sempre. Alguns aprendizados e conclusões:
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- Leve somente o necessário: Pouco peso nas costas vai tornar sua experiência muito mais agradável.
- Dormir na rede é difícil mas não é tão ruim quanto eu imaginava. Tem muita cama de hotel pior.
- Permita-se conectar com a natureza e olhar para o parque além das lagoas de águas cristalinas.
Espero que tenha te ajudado a decidir fazer a travessia pelos Lençóis! Se tiver alguma dúvida pode me mandar mensagem lá no Instagram ou entra em contato com a Enjoy Maranhão pra eles te ajudarem!
QUANTO CUSTA VIAJAR PARA OS LENÇÓIS MARANHENSES!
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